terça-feira, 15 de abril de 2014

Um instante, Bresson!

Henri Cartier-Bresson (1908-2004), talvez o mais famoso dentre todos os “grandes fotógrafos” do século XX, ficou conhecido como o fotógrafo do “instante decisivo”. Bresson se dizia amante da pintura, do desenho e do cinema afirmava que essas imagens o ensinaram a ver. Também gostava de escrever e nos legou alguns textos sobre fotografia, talvez o mais famoso seja “O imaginário segundo a natureza” em que ele escreveu: Fotografar é prender a respiração quando todas as nossas faculdades se conjugam diante da realidade fugidia; é nesse momento que a captura da imagem é uma grande alegria física e intelectual. Fotografar é por na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração Quanto a mim, fotografar é um meio de compreender que não pode ser separado dos outros meios de expressão visual. Ë uma maneira de gritar, libertar-se, não de provar nem de afirmar sua própria originalidade. Ë uma maneira de viver...Há quem faça fotografias previamente arranjadas e há os que vão à descoberta da imagem e a captam. A máquina fotográfica é para mim um bloco de esboços, o instrumento da intuição e da espontaneidade, a senhora do instante, que, em termos visuais questiona e decide ao mesmo tempo. (BRESSON, 2004:12) Bresson acreditava numa certa espontaneidade do instante, a lei natural ao qual o instante está submetido não é a da gravidade, e sim a da perpétua mudança. A configuração do instante só é percebida como nuance de sua passagem, lembra Lissovisky (2008: 80). O instantâneo fotográfico seria assim um divisor de águas (ou melhor, de tempos), o futuro da imagem e o passado das coisas e dos corpos. As coisas e os corpos têm sua temporalidade e é isso que angustia Bresson: De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa um momento preciso. Nós jogamos com as coisas que desaparecem, e quando desapareceram, é impossível fazê-las reviver... Para nós, o que desaparece, desaparece para sempre: daí nossa angústia e também originalidade essencial do nosso ofício (CARTIER-BRESSON, 2004:19).
BRESSON, Henri-Cartier. "O imaginário segundo a natureza" LISSOVISKY, Mauricio, A Máquina de Esperar: origem e estética da fotografia moderna/Rio de janeiro: Mauad X, 2008.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

RÁPIDO DESABAFO!!!

Tenho acompanhado de perto algumas manifestações ao longo dos últimos dias e produzido fotos tentando mostrar a diversidade de situações sem querer chegar a uma "verdade". Todas elas estão disponíveis para o uso de vocês ou de qualquer um que queira utiliza-las. Ontem, dia 22 de julho, por volta das 23 horas estava esperando um ônibus pra voltar para Niterói junto com um amigo. Fui " parado" por um policial de forma extremamente violenta e arbitrária simplesmente porque resolvi me aproximar de um grupo de cerca de 15 policiais que estavam dando uma "dura" em dois rapazes na rua das Laranjeiras, na altura das Lojas Americanas. Esse policial identificado como Marcos (nome que estava escrito na farda) se aproximou, me puxou pelo braço dizendo que eu estava com os jovens. Eu disse que era jornalista e estava fazendo o meu trabalho observando o trabalho deles, exercendo também o meu meu direito de ir vir. Imediatamente ele sacou uma pistola apontou para o meu peito e disse o seguinte em voz alta:_Eu sou polícia e vou te mostrar como polícia trabalha! Você é suspeito! Aqui você é suspeito! De costas pra parede, abra as pernas e fica de costas pra parede!!! ( Em seguida ele me deu aquela patolada básica). Mais uma vez eu disse que era jornalista e que estava com uma câmera para fotografar a chegada do Papa. Ele abriu a mochila pegou a câmera e mudou de tom.Outros policiais "bonzinhos" se aproximaram e perguntaram o que estava acontecendo. O tal Marcos me pediu os documentos. Entreguei minha carteira do mestrado da UFF, ele alterou a voz mais uma vez, agora com tom de deboche dizendo o seguinte: _ Essa identificação aqui não serve, tá me achando com cara de reitor? Essa aqui não serve! Mas eu tô vendo que você é um cara de bem e vou te liberar! Mas deveria te levar pra delegacia!!! Eu respondi: _Pode levar! Não fiz nada de errado! Qual o seu batalhão "amigo" Marcos? _ Tá querendo saber demais! Cala a boca que eu já te liberei! Vai embora, vai embora! Eu fui, entre a vitória e a derrota!

GENTE ESCROTA, GENTE ESCROTA !!!

Bem sei que GENTE ESCROTA existe, mas ainda me surpreendo quando me deparo com uma, em carne e osso, bem ali na minha frente! É sobretudo nas palavras, nos discursos, que essas "entidades" tomam forma, se materializam! Na maioira das vezes são tão covardes que não têm coragem para materializar essas palavras em práticas, em ações. Para isso contam com mais GENTE ESCROTA. Eu explico: ontem, quando eu voltava para casa por volta das 18 horas, recebi a triste notícia de que uma casa na rua em que moro foi destruída por um incêndio. Num primeiro momento, fiquei muito preocupado, afinal essa casa poderia ter sido a minha, por sorte, não era. Descobri ,no entanto, que se tratava de uma casa antiga, do outro lado rua, mal cuidada pela falta de recursos dos moradores. Pensei logo em uma tragédia maior, afinal lá viviam uma casal com três filhos pequenos, uma velha senhora e dois cães. Logo fiquei sabendo que nada pior tinha acontecido com eles, no momento, não havia ninguém em casa. Fui até o local do incêndio, havia anida muita brasa e sinais de fumaça. Fiquei preocupado, fui até um barzinho próximo buscar por mais informações sobre o paradeiro da família. Ali, uma jovem me mostrou algumas fotos da casa em chamas e me levou até uma mesa onde estava a tal "entidade". Ela ( a entidade) era uma senhora, com os seus 60 anos e muito, muito antipática. Ao me aproximar ela foi logo dizendo de forma irôncia e ar "superior": _ O que você quer? Você mora onde?!! Apontei para minha casa, na subida. Ela olhou com desdém. Perguntei se ela sabia algo sobre o pessoal da casa. Ela ironicamente respondeu que estavam bem e que eu não deveria me preocupar porque agora depois do incêndio a "área iria ficar" mais limpa! Menos pobre na área! Ela dizia ,orgulhosa, que assistiu a cena toda do camarote, bebendo sua cervejinha gelada! Quando eu disse que parte da casa ainda estava em brasa, ela, quase aos berros , falou.: você está mentido, você está mentindo!!! Pouco tempo depois os bombeiros voltaram. Enfim....CUIDADO, GENTE ESCROTA EXISTE!!!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

SOBRE FOTOGRAFIA 4: Um pouco da fotografia brasileira no século XIX

Na fotografia realizada no Brasil, no século XIX, estendendo-se também até os primeiros anos do século XX, vão prevalecer sobretudo as paisagens e os retratos. Essas paisagens dividem-se em dois grandes grupos, as naturais e as urbanas. As paisagens naturais vão dar conta de um Brasil exuberante, selvagem, e colocam o espectador em contato com a natureza. As paisagens urbanas apontam para o progresso e a transformação, aos poucos o país vai se libertando dos traços “coloniais” clássicos portugueses. O progresso também é retratado na interiorização do Brasil através de grandes obras que desafiam a natureza como as estradas de ferro, hidroelétricas, pontes, aquedutos, entre outros. Durante o Império de D. Pedro II, muitos fotógrafos estrangeiros contribuíram para a construção de relatos fotográficos sobre o Brasil, acompanhando diferentes expedições e comitivas científicas, segundo BORGES (2011):
"Assim como as viagens fotográficas ao Oriente, os relatos fotográficos e textuais de estrangeiros sobre o Brasil também contribuíram para reforçar imaginários, sustentados pelos europeus, sobre a vida e a natureza na recém-criada nação brasileira. Pode-se dizer que quando se referiam à fauna e à flora brasileiras, os membros das expedições científicas tendiam a se orientar pelas imagens que sustentavam o espelho do paraíso. A vida social nas vilas, nos sertões e nas selvas era, quase sempre, orientadas pelos códigos culturais que alicerçavam o espelho rústico, selvagem e atrasado. Vista como uma nação “que por assim dizer, não tem passado” – para usar uma expressão do médico e cientista Johann Emanuel Pohl em Viagem ao Interior do Brasil (1817-1821) – a pujança de sua natureza alimentou a projeção de futuro grandioso". (BORGES, 2011: 101). As fotografias de viagem, já naquela época eram produto de um mundo que se tornava cada vez menor e se fazia conhecer através da circulação de imagens, estas por sua vez, se tornavam parâmetros universais de interferências públicas, urbanas e de consumo, influenciando inclusive relações sociais (o modo de ver o outro). Ainda de acordo com BORGES (2011) o imaginário estrangeiro definia de certa maneira como o Brasil era visto lá fora, associado a isto estavam as difíceis condições de produção dessas imagens, quer repercutiam num modo de olhar, cheio de metáforas e mensagens culturais, uniformizando não apenas o modo de ver o mundo, mas também o consumo dessas imagens por onde quer que passassem os viajantes europeus. Negros, índios e a gente do interior também ganham interesse ao olhar dos estrangeiros como parte de um Brasil, exótico e primitivo, que ao mesmo tempo guardava um futuro grandioso. Vale mais uma vez destacar que esse olhar refletia o pensamento da época atravessado pelo eurocentrismo e pelo etnocentrismo e que deixou rastros até os dias atuais. Referências: BASTOS, Maria Teresa Ferreira. Imagens secretas: fotografias da Polícia Política no acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. In: Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Nº 4 – 2010. Disponível em:http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204432/4102201/revista_AGCRJ_4_2010.pdf BORGES, Maria Eliza Linhares, História & Fotografia. Belo Horizonte: Editora Autentica, 2011.

SOBRE FOTOGRAFIA 3: DIGITAL -Por Marcelo Valle

O surgimento da fotografia digital no terço final do século XX corrobora ainda mais a importância do papel da fotografia, que passa agora a ocupar também os espaços virtuais entre pixels, sites, blogs, fotologs, redes de relacionamento, atingindo uma escala global em poucos segundos. Se, por um lado, as imagens fotográficas ganharam espaço através da geração e difusão de imagens em proporções nunca antes imaginadas, por outro, tornam-se cada vez mais efêmeras, quase descartáveis. De certa forma vem “esvaziando” uma de suas características mais fascinantes, o suposto poder de perpetuação de um momento por toda eternidade. Como dizem SANTAELLA & e NOTH (1999: 133): "A imagem fotográfica fixa, estável, congelada, imutável, disponível para sempre nos dá uma espécie de posse vicariante do objeto, algo que pode ser conservado e olhado repetidamente, sem qualquer espécie de limite. Longe de vir do objeto, o limite vem de nós mesmos. As fotografias sobrevivem não apenas a nós, mas a muitas gerações." Ao longo dos anos a fotografia sofreu mudanças radicais desde o suporte da imagem, antes revelada em um substrato “físico” como um filme, até ganhar novas características, na medida em que é associada aos telefones celulares e outros meios de tecnologia móvel. Ganhou uma nova portabilidade, nova mobilidade e até outra “instantaneidade”, associada aos processos de transmissão e circulação dessas imagens. Cria também novas formas de sociabilidade, como grupos de fotógrafos ou de amigos que compartilham e trocam imagens virtualmente. Referência: SANTAELLA, Lucia e NOTH, Winfried. Imagem - Cognição, semiótica e mídia.São Paulo: Editora Iluminuras, 1999

quarta-feira, 2 de abril de 2014

SOBRE FOTOGRAFIA 2: FOTOGRAFIAS DE ESCRAVOS POR CHRISTIANO JR- por Marcelo Valle

Fato inusitado (ou talvez nem tanto) são as fotos de Christiano Júnior, datadas de 1865, que retratou negros escravos em seu estúdio no Rio de Janeiro, usando a mesma lógica dos carte-de-visité, no entanto, sem o aparato burguês, nos legando a maior coleção de fotografias de escravos brasileiros. Christiano fotografou negros simulando suas atividades de trabalho, os chamados escravos de ganho, floristas, ambulantes, barbeiros, vendedores de todo tipo, com o objetivo vendê-las para estrangeiros ou para brasileiros que estivessem viajando para o exterior. Imagens que, como nos lembram JAGUARIBE & LISSOVISKY (2005:54), não se enquadravam nos paradigmas antropológicos das classificações étnicas e raciais e também não eram ilustrações científicas. Acabam por fim se tornando verdadeiras aberrações, pois são segundo esses autores, duplamente incongruentes. A primeira incongruência está no fato dessas fotografias irem contra o próprio formato do carte-de–visité e suas características burguesas, que ressalta que o escravo estava ali deslocado, sem sua imagem social e destituído de um caráter individual, aquela imagem naquele lugar não lhe pertenciam. A segunda incongruência está na cena propriamente dita, em que ao representar a si mesmo, e ter feito a transposição do cotidiano das ruas para dentro do estúdio, a imagem ganhou um ar de “realismo descontextualizado”. A coleção completa de imagens produzidas pelo fotógrafo Christiano Jr., localizada no acervo do Arquivo Central do Iphan/Rio de Janeiro, é formada por cinquenta peças. Referência: JAGUARIBE, Beatriz, LISSOVISKY, Maurício. O Visível e os invisíveis: imagem fotográfica e imaginário social. In: O Choque do real: estética, mídia e cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. —

SOBRE FOTOGRAFIA: A Coleção Thereza Christina - Por Marcelo Valle

A fotografia assim que inventada chegou com grande rapidez ao Brasil, algo surpreendente, se considerarmos a nossa condição periférica no cenário mundial, nossa sociedade escravocrata e a considerável distância que nos separa da Europa (VASQUEZ, 2003). Uma matéria publicada no Jornal do Commercio, do Rio de janeiro, em 1839 dá destaque especial ao daguerriótipo, notável descoberta francesa e sua grande perfeição e realismo (MAGALHÃES & PEREGRINO, 2004) . Cinco meses após o anuncio oficial de sua descoberta, a daguerreotipia chega ao Rio de Janeiro a bordo do navio escola francês L’Orientale nas mãos do abade Louis Compte, amigo pessoal de Louis-Jacques Mande Daguerre, inventor do daguerriótipo. As primeiras fotos realizadas no Brasil foram feitas por Compte, uma série de três vistas: o Paço Imperial, o Chafariz do Mestre Valentim e o Mercado da Praia do Peixe. Não se sabe ao certo quando, mas o fato é que essas fotografias chegaram até o jovem imperador, que demonstrou interesse imediato pela invenção e se tornou um de seus maiores propagadores, adquirindo ele mesmo uma máquina. Dom Pedro II cria um acervo composto de aproximadamente 25 mil fotografias e que foi doado à Biblioteca Nacional recebendo o nome de Coleção D. Thereza Christina. Segundo a página digital da Biblioteca Nacional : nesse legado havia uma enorme quantidade de fotografias, avulsas e em álbuns; referentes ao Brasil e a países estrangeiros; registrando viagens oficiais do staff do Império do Brasil, fatos, paisagens, acontecimentos históricos; fotografias de muitas partes do Brasil; recebidas por doação durante as viagens que empreendeu ou ainda que adquiria dos fotógrafos itinerantes. Muito da constituição desse acervo fotográfico se deve ao espírito inquieto e indagativo do Imperador, que buscava constantemente se enriquecer e se atualizar, estando em dia com os acontecimentos e descobertas que então aconteciam na Europa. Essa coleção é um bom exemplo da apreensão de um grande número de temas, como foi lembrado por SONTAG (1981), e também se reflete na fotografia feita no Brasil a partir de um olhar eurocêntrico e positivista, destacam-se assim: fotografias de caráter científico, antropológico, astronômico, arqueológico, biológico, geológico; fotografias de personalidades europeias, pertencentes a outras casas imperiais, além de personalidades do mundo das artes e das letras; fotografias de acontecimentos históricos e/ou marcantes no desenvolvimento e progresso do país; fotografias de viagens do Imperador e suas comitivas a países orientais, bem como tipos e aspectos desses povos; fotografias de curiosidades, peças de museus e exposições, monumentos. E muitas e muitas imagens da família imperial. Referências: Biblioteca Nacional Digital, http://bndigital.bn.br/200anos/therezaChristina.html, acesso em 10 de março de 2013. Parte da coleção digitalizada pode ser vista em: http://bndigital.bn.br/projetos/terezacristina/index.htm MAGALHÃES, Angela, PEREGRINO, Nadja. Fotografia no Brasil: um olhar das origens ao contemporâneo. Rio de Janeiro: Funarte, 200. SONTAG, Susan. Ensaios sobre a Fotografia. Tradução de Joaquim Paiva. Rio de Janeiro, Arbor 1981. VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na Fotografia Oitocentista. São Paulo:Metalivros, 2003.