quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um velho Mercado


O atual mercado São Pedro, localizado na Ponta da Areia,Niterói, foi inaugurado em 29 de junho de 1971, vindo a substituir o antigo mercado de peixes, um conjunto de barracas e palafitas que avançava sobre o mar na Praia Grande (orla da Baía de Guanabara que costeava o centro de Niterói).

Ficava próximo onde hoje se situa o terminal rodoviário João Goulart, na avenida Visconde de Rio Branco, centro . Funcionou ali até o início dos anos 70, quando foram feitas obras para o aterramento da praia. Na época, o governo estadual decidiu transferir o mercado para um galpão do Ceasa, no bairro Barreto, gerando uma polêmica entre os barraqueiros que não aceitaram a transferência, pois ficariam muito longe do mar.

Organizados, os barraqueiros criaram uma cooperativa chamada "Comercial São Pedro", com aproximadamente 48 integrantes, que comprou um terreno nas proximidades do antigo mercado e custeou as obras do novo.
O antigo mercado era também conhecido como “mercado da palafita”, umas construções precárias e pobres, que atendiam a uma freguesia de baixa renda, “do povo”.
A classes mais abastadas compravam seus peixes nas peixarias de Icaraí. Os peixeiros, alguns deles estrangeiros (principalmente italianos e portugueses), eram então conhecidos como barraqueiros, estes eram considerados grosseiros, de linguajar rude, muitas vezes acusados de enganar a freguesia, vendendo peixe passado e trapaceando na balança. De acordo com alguns depoimentos, era comum, quando se comprava um peixe inteiro e mandava-se fatiar em postas, virem faltando alguns pedaços que depois eram revendidos.
Apesar da concorrência entre as barracas, havia companheirismo, eram solidários na mulher e na cachaça. Próximo ao velho mercado, havia uma colônia de pescadores, que era responsável por boa parte de seu abastecimento. Na época toda pesca era artesanal e muitos barcos entregavam o peixe direto nas barracas.
Quase todos eram católicos e até o final dos anos 60 era realizada uma grande festa para São Pedro, padroeiro dos pescadores no mês de junho. O santo deu nome ao mercado: Mercado de Peixes São Pedro!

Conversas


Vou até o barranco
e arranco
um pouco de argila.
Tento fazer um gorila, mas não consigo.
Faço um pescador que lança suas redes ao céu.
Ele pega algumas nuvens que logo se dissipam.
Espera a noite chegar.
Lança sua rede.
Pega algumas estrelas.
O céu ficou triste. Logo chove.
O argila amolece, o pescador se desfaz.
As estrelas brilham livres.
Aparece a lua.
Conversamos.
Ela me conta alguns segredos.
Segredos são segredos,disse a lua.

Quem se lembra da mulher Melancia?


Todo mundo estranhou quando viu aquele caminhão subindo a ladeira, ainda mais carregado de melancias. Para ser mais exato, 1500 frutas. Atrás do caminhão vinham oito viaturas do Bope, o que não era de se estranhar, pois eles sempre estavam por ali, a comunidade fora "apaziguada", o tráfico varrido. Desde 2000, a Tavares Bastos passou a ser uma espécie de campo de treinamento onde os soldados do Bope podem simular confrontos mais próximos da "realidade" das favelas. Desde então o funk sumiu!

Mas naquela manhã mais coisas estranhas aconteceriam. Um tempo depois escutava-se ao longe uma batida de funk, que aos poucos ia ganhando volume. Era ele, o temido caveirão que vinha subindo a ladeira. Mais parecia um trio elétrico. As pessoas curiosas saiam de suas casas e seguiam o veículo. Não é possível, o caveirão trouxe o funk de volta! Dos alto falantes do blindado o que se escutava era CRÉU...CRÉU...CRÉU...CRÉU!

O veículo estacionou em frente a Associação de Moradores, abriu as portas traseiras, e dele desceu a jovem Andressa. Vestidinho vermelho, curto. O funk continuava a rolar. A multidão eufórica gritava CRÉU...CRÉU...CRÉU...CRÉU! Rolaram também as melancias! Para ser mais exato, 1500 frutas rolando ladeira abaixo. Nem o Batalhão de Operações Especiais conseguiu deter as frutas. O chão estava todo coberto de vermelho, não dava mais para distinguir o que era sangue do que era caldo. A enxurrada descia o morro, as escadas transformaram-se em verdadeiras cascatas. Dos alto falantes do caveirão ainda se ouvia: CRÉU...CRÉU...CRÉU...CRÉU!

Corra que a polícia vem aí!



Todos os dias pela manhã leio apressadamente as manchetes dos jornais em alguma banca do caminho que me leva até o trabalho. Dou preferência aos jornais "popularescos". Hoje numa banca de esquina, em um rua qualquer de Botafogo, uma manchete estampava o seguinte: "Policiais matam 15 vezes mais na Zona Norte do que na Zona Sul".
Atrás de mim um policial com uma cara de desconforto e preocupação comentava o seguinte:_Pô, sacanagem! Já tão querendo aumentar nosso trabalho, vamos ter que trabalhar 15 vezes mais e o salário... ó!

Meu Gambá - O encontro


Não , não era nenhuma dessas raposas que a gente cativa, embora fosse também um profundo apreciador de galinhas. Na calada da noite vivia a visitá-las, criando alvoroço nos galinheiros vizinhos. Penas, sangue e casca de ovos espalhados pelo chão,além disso, nenhuma pista, rastro ou pegada. Chegou a ser confundido com o tal chupa-cabras, coitado.
Os vizinhos, assustados, não sabiam o que fazer. Montaram guarda, colocaram armadilhas e... nada! Chegaram até a consultar um ufólogo (os ETs estavam na moda).
Numa dessas madrugadas de lua cheia,depois de ter tomado muita Samanaú (cachaça de Caicó), voltei para casa escorando nos muros e tentando, a todo esforço, andar em linha reta, me deparei com “ele” pela primeira vez. Vi sobre o portão da dona Marieta, num contraluz ao luar, apenas uma silhueta. Longas e arredondas orelhas, corpo delgado, rabo comprido e fino. Era estranho e ao mesmo tempo familiar, meio gato, meio rato.

Gritei:_ MICKEY!!!

Assustado ele desapareceu nas trevas.

Dona Marieta, velha portuguesa, acendeu as luzes, foi até a janela e disse: _Ora, pois! Isso são horas?!!! Já estás meio grande para “ brincare” de Disneylândia rapaz!!!

Curta Curtis!


COMING TO LIGHT – EDWARD CURTIS AND THE NORTH AMERICAN INDIANS

DIR: Anne Makepeace, EUA, 85 min, 16 mm, 1999

Sinopse: (retirado do catálogo da Sétima Mostra Internacional do Filme Etnográfico)

O filme retrata a vida de Edward S Curtis, brilhante fotógrafo de Seattle que, entre 1900 e 1930, fotografou e filmou os índios da América do Norte. Os descendentes dos “modelos” de Curtis utilizam as fotos para fazer renascer suas culturas e explicar o que elas representam para os índios de hoje.

DO comentário:

Três fatores fundamentais marcam a História específica dos EUA no século XIX, a Guerra Civil, a “Conquista” do Oeste e a Guerra Hispano Americana (que estigmatiza o início do domínio norte americano sobre a América Latina). Um desses fatores, a Conquista, é de suma importância para o entendimento do trabalho de Curtis, que vivenciou parte de um períodos dos maiores massacres da América (1865-1890), o genocídio dos índios norte americanos que, apoiado pelo governo, se torna institucionalizado. Curtis inicia seu projeto de registro nos fins do século XIX, logo após o período dos grandes massacres. Ele talvez tivesse a consciência de que seu trabalho fosse o único registro desses povos. Quando inicia, muitos povos já haviam se extinguido, sido dispersos e divididos em reservas fora de suas áreas originais. A idéia inicial era de registrar fotograficamente todos os grupos indígenas norte americanos e fazer uma enciclopédia, mas ele acaba também se utilizando de câmeras de cinema tentando filmar antigos rituais até então nunca registrados. Não conseguindo, recria esses rituais em estúdio e lança vários filmes no mercado. Suas fotos, grande parte delas são influenciadas pelo Retratismo e Pictorialismo do século XIX. Hoje muitos antropólogos questionam o trabalho de Curtis embora reconheçam seu valor. Muitas vezes, principalmente quando ele parte para o cinema, seu trabalho parece ficar no limite entre a realidade e a ficção, conseguindo de uma forma diferente, diria até mesmo perigosa de atrair a atenção para um tema até então abominado na sociedade americana: a questão indígena.

Navajos, Tupinambás, Cheyennes, Guaranis, Siouxs, Apinajés, Kiowas, Pataxós, Aparahos, Bororos, Cherokees, Timbiras, Creeks, Aymorés, Mohawks, Goitacazes...

São uma pequena parte dos muitos Povos da América do Norte e do Brasil que guardam entre si muito mais do que origem, tradições e histórias, talvez compartilhem do mesmo fim, o fim assistido algumas vezes por Curtis. Uma história que se repete em toda parte... (será?)


O documentário segue uma narrativa linear mostrando que o trabalho e a vida de Curtis se fundem, induzindo durante algum tempo o espectador a ter um pensamento que se confunde com o do próprio Curtis, até que, em determinado momento, começa a trabalhar com elementos que geram um conflito interno. Um desses elementos é o questionamento da veracidade e da validade de seu trabalho, aquilo que era verdade torna-se verossímil. Abrindo espaço para a discussão tanto da fotografia quanto do cinema documental e sua suposta objetividade. Curtis parecia estar absolutamente envolvido por seu trabalho ao ponto de tentar reconstruir realidades que até então já não mais existiam, essa reconstrução é o limite com a ficção.

Conheçam a obra de Curtis!


Marcelo Valle

quarta-feira, 21 de abril de 2010

milton nascimento e chico buarque - cio da terra



O Cio da Terra

Composição: Milton Nascimento / Chico Buarque

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão

Ella Fitzgerald - Summertime



Summertime
George Gershwin
Composição: George and Ira Gershiwn

Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high

Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry

One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky

But till that morning
There's a'nothing can harm you
With daddy and mamma standing by